Vidas Intensas

A pessoa de quem vou falar neste texto cometeu erros, tal como toda a gente, na vida; teve uma vida de excessos no que ao sexo oposto toca talvez, ou talvez não, se pensarmos que foi tudo na hora certa. Não se arrepende, nem se orgulha, mas de uma maneira ou de outra teria que aprender.

Perguntei-lhe se alguma vez tinha sofrido por amor, ela sorriu ironicamente e respondeu que não tinha feito outra coisa na vida, tanto por não ter amado, como por não ser amada.
Continuei a conversa querendo saber ao certo o que ela queria dizer com aquela última parte da frase. Então ela explicou-me que por vezes dói mais não amar quem nos ama, pois conhecemos a dor da outra pessoa e ao mesmo tempo sentimo-nos estúpidos por não desejar quem o merece, apesar de sabermos que não temos culpa. Pois é certo que amar quem não nos quer é como um vírus , vai tornando-nos mais fracos, cada vez mais fracos, até que só nos resta duas opções, ou tomamos o antibiótico e cortamos o mal de vez, ou mergulhamos definitivamente na doença. Mas nem sempre foi assim tão mau, houve amizades que sobreviveram a um amor não correspondido, acrescentou com um registo mais leve.
Não sabia como lhe colocar a próxima questão, mas tinha de ser feita. Queria saber se alguma vez escondeu o sentimento de solidão atrás de casos passageiros, ela respondeu-me prontamente que sim, mas que não tinha sido fácil admitir isso. Disse também que não se arrepende dos casos que teve, mas muitas vezes também não se orgulha. Contou-me que, a partir do momento em que conseguiu admitir para si própria o motivo real das suas atitudes, quis parar e passou a levar uma vida "sentimental" mais calma.
Apercebeu-se, também nessa altura, que a maior parte dos homens ainda são muito "primatas", são egoístas, exigem coisas de nós, mas não aceitam pedidos nossos, pois ainda têm aquela ideia de que a mulher é que tem de ser submissa, mesmo que essa ideia seja inconsciente, porque muitos dizem que são muito modernos e liberais.
Perguntei-lhe o que a levou a tirar essa conclusão, ela disse que tinha sido o facto de ter conhecido um homem que, em vez de lhe fazer exigências e pedir coisas, deixou ser ela a decidir o que queria, se queria, quando queria e ainda lhe gostava de fazer uma surpresa que incluía velas e banheira. Revelou-me, emocionada, que no momento em que ouviu as palavras a saírem da boca desse homem deu-se conta de que nunca ninguém tinha feito isso por ela (sem contar obviamente com os namorados que teve), e que nessa noite fartou-se de chorar agarrada à almofada, sentido-se uma pessoa horrível, por nunca ter conseguido gostar de quem realmente merecia, e idiota, por não conseguir parar de pensar noutra pessoa enquanto estava com ele. Pois infelizmente é essa pessoa que lhe ocupa o coração.

"senti-me miserável, com pena de mim própria por ter perdido o controlo e por me ter deixado subjugar; comecei a pensar: não, isto não pode continuar, eu sou muito mais que isto, não posso desperdiçar a minha inteligência, o meu carácter, a minha boa-educação com pessoas egoístas, mesquinhas. Não sou o tipo de pessoa barata e odeio-me por ter deixado passar essa imagem de mim, sem querer e sem me aperceber. " 

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