Capítulo 3 - As Memórias de Clarice

Estava um dia muito chuvoso, o Outono tinha chegado em força. Não se viu o sol durante todo o dia e a chuva só parava por escassos minutos voltando logo em seguida como se de um diluvio se tratasse. A escola, apesar das muitas janelas, encontrava-se escura como breu nos sítios em que a luz não tinha sido ligada. As nuvens negras que se viam no céu convidavam a uma noite passada em frente à lareira a beber chocolate quente e, provavelmente, era isso que eu faria quando chegasse a casa visto que era sexta feira.
Para culminar o meu dia da pior maneira possível, o lugar onde o meu carro estava estacionado encheu-se de água da chuva, o meu carro deve-se ter afogado pois quando o tentei ligar não dava qualquer sinal de vida! Não tinha como voltar para casa a não ser de táxi, o autocarro já tinha partido há uma hora, não queria gastar tanto dinheiro mas não havia outra hipótese.
Quando estava já a pegar no telemóvel para marcar o número da praça de táxis alguém bateu no vidro da janela do meu carro. Virei-me de imediato para ver de quem se tratava e vi o Fernando de chapéu de chuva na mão a pedir-me para que baixasse o vidro.
- Então o que se passa com o teu carro? Vi-te a tentar ligá-lo sem sucesso.
- Não sei, penso que foi da água, não pega de maneira nenhuma e com esta chuva não vou estar a levantar o capo para verificar o que se passa.
- Bem se quiseres eu dou-te boleia.
- Oh mas a tua casa nem fica a caminho da minha, ias dar uma volta enorme!
- Bom tu é que sabes, se queres gastar 10 euros em táxi tudo bem. Se me estava a oferecer é porque não me importo de dar voltas.
- Eu sei que não te importas, mas está a chover tanto... só por causa disso.
- Não te preocupes, gosto de conduzir à chuva, sempre com cuidado, claro!
- Sendo assim, eu aceito. Para ser sincera, não me estava a apetecer gastar tanto dinheiro.

Ainda bem que a minha casa ficava apenas a sete quilómetros da vila, não que não confiasse no Fernando, mas sempre tive medo de fazer viagens à chuva. Quando chegámos a minha mãe já estava a dormir, nem me ouviu abrir a porta de casa, pousar as coisas, nem fazer qualquer outro movimento. O Fernando tinha-me ido levar até à porta debaixo do guarda-chuva, de outra maneira eu teria ficado completamente encharcada.
- Queres entrar um pouco e beber qualquer coisa quente? Pode ser que entretanto a chuva alivie para poderes ir para casa.
- Acho que vou aceitar, gosto de viajar à chuva mas esta está demasiado cerrada.
Dali até à sua casa ainda eram alguns 27 quilómetros, não iria ficar descansada se ele fosse debaixo daquela chuva, pelo que fiquei contente por ter aceite o meu convite.
Fui preparar o chocolate quente no qual tinha estado a pensar durante quase todo o dia, enquanto o leite aquecia fui acender a lareira da sala, onde depois ficámos sentados no sofá a deliciarmo-nos com o chocolate.

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