Misunderstood: é fácil apontar o dedo quando nunca sentimos o que alguém está a sentir

Sinto-me incompreendida a maior parte do tempo, às vezes até mesmo por aqueles que normalmente estão lá quando preciso. Penso que ninguém sabe quem eu sou de facto, talvez a culpa seja minha porque tento sempre mostrar um lado invencível e intocável, mas também quando tento que me conheçam ninguém quer saber, nunca me dão oportunidade. Parece que ninguém quer saber quem eu realmente sou e preferem ficar com a imagem que eles próprios criam de mim que não corresponde necessariamente à verdade. De quem é a culpa na realidade? Não faço ideia! É como se eu dissesse "ok agora fora de brincadeiras, vamos falar a sério" e a outra pessoa respondesse "mas eu não quero falar a sério", como se os meus sentimentos não importassem, só ela é que importa. Sabem o que é tentar ser ouvida e as pessoas simplesmente não ligarem nenhuma?
Ninguém tem noção, é muito fácil dizer de fora que isto não é nada, que os meus problemas são mínimos comparados com as pessoas que passam fome, as pessoas que morrem na guerra, etc. Eu própria às vezes sinto-me estúpida, porque a minha vida comparada com isso é um mar de rosas, mas logo a seguir volto a pensar que eu não posso viver os problemas dos outros, não tenho culpa de viver num país que, felizmente, não está em guerra, de ter uma família minimamente normal e de nunca ter passado fome, mas isso deixa-me sem direito de sentir dor? Só porque há pessoas em pior situação? É a situação delas e eu tenho a minha. Dor é dor PONTO E se eu não a sentisse decerto não seria humana!
Eu chorei porque a minha gata desapareceu e alguém me disse "é só um gato", não, não era só uma gata, era uma companhia, uma amiga e é exactamente por causa de reacções como esta que por vezes prefiro a companhia dos animais; eles não troçam da nossa dor, dão-nos mimos, porque se lhes dermos carinho eles retribuem. E o que é que as pessoas fazem? Muitas vezes damos carinho e só levamos porrada em troca. Os humanos é que destroem o mundo, não são os animais, só por isso já devíamos respeitá-los mais!
Nunca fui de me queixar, não gosto que tenham pena de mim, apenas gostava de ser ouvida mais vezes. Quando contava a alguém o que se passava comigo, o objectivo não era que a pessoa dissesse "ah coitadinha, pois percebo", era mais para eu própria enfrentar o meu problema, porque só falando nele eu conseguia enfrentá-lo. Ainda assim não é fácil. Quando perdemos auto-estima, perdemos tudo e, por mais que nos digam que somos capazes, não conseguimos porque estamos cheios de medo, medo de falhar, medo de nós próprios.
Eu fiz uma operação que me limitou os movimentos, logo no 1º semestre do 1º ano da faculdade (2007), tive de ficar 1 mês em casa; nesse ano chumbei a quase tudo, tirando a maior parte das disciplinas teóricas. Fingi que não me custou, mas no fundo sei que teve impacto pois eu nunca tinha chumbado, sempre fui aluna de 4 e 5, de 17, 18 e até de 19, de repente chegar onde eu queria e chumbar, fez-me pensar que talvez eu não fosse capaz. Ainda assim, tentei ao máximo afastar esses pensamentos, voltei no ano seguinte e fiz o primeiro ano da faculdade. No entanto não fui suficientemente forte para aguentar os problemas pessoais e um 2º ano da fac. E mais uma vez surgiram as questões existenciais. Desisti, porque me estava a consumir, porque não conseguia dar o meu máximo, não tinha forças.

Sei que há muita gente que acha que estou a desperdiçar um ano da minha vida. mas sinceramente agora que penso nisso, ainda bem que não entrei na faculdade este ano lectivo, porque acho que ainda não estava preparada, ainda me sentia fraca e sem ânimo. Há gente que faz retiros, eu estou a fazer o meu... longe das pessoas, longe da confusão, dos transportes, do stress, longe de gente maldosa que só nos quer ver no lixo. Como a minha irmã diz "estás a fazer um estágio". Estou a recarregar baterias
Para que no próximo ano lectivo eu consiga escolhi um curso no qual sei que me vou sentir à vontade (línguas), preciso de voltar a estudar letras e voltar a ter dezoitos e dezanoves, para voltar a acreditar que AINDA consigo. Talvez depois, já com a auto-estima no lugar, eu regresse à FMH e acabe a licenciatura com a qual sonho desde o 7º ano.

Estamos sempre a aprender e eu, apesar de parecer estar parada, já aprendi muito nestes meses. E para aqueles que apontam o dedo e troçam da dor dos outros, aqui fica a dica:
"Como é que sabes o que é ter fome, se nunca passaste fome? Eu cá não sei, nunca passei fome!" - by me (lol)

P.S. - Eu aprendi a não julgar os outros sem primeiro tentar percebê-los.

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